Resistir às
armadilhas do inevitável. Lutar sozinho contra as brigadas da realidade,
resistir em meio à pobreza e, quando falo em pobreza não me refiro apenas
àquela material. Pobreza de ideias num mundo cheio de informação e pouca ou
quase nenhum conhecimento. Conhecimento. Não é aquele do diploma, mas do que
nos indica como fazer. Rotas alternativas de um longo caminho e de uma
existência sem graça. Das certezas que trazemos do nosso silêncio, tesouro cada
vez mais raro.
Resistir mesmo
quando somos conduzidos como animais ao matadouro. Nosso matadouro é a própria
existência, sempre tão certinha recheada de modinhas e de sorrisos que não riem.
Cada vez mais protocolares vivendo em meio a jovens, que já não questionam, mas
não o fazem porque já sabem tudo, antes o fosse. Quem sabe poderiam em suas
certezas desafiar a retidão dos poderosos. Quisera! “Eu não acho que ...” é
tudo que temos em meio ao turbilhão de opiniões que não dizem nada, não propõe
nada.
Resistir. Viver
pode ser o maior exercício de resistência, mesmo quando seus sonhos jamais
serão realizados. A vida não é ficção, embora a ficção insista em imitar esta
vida que resisti a rende-se a ficção. Na ficção cada um escreveria sua própria
história, o cenário e sua plateia estariam em conformidade ao que de fato
procuram e gostam.
Resistir mesmo
quando o elemento da fé lhe abandona, porque resistir, por vezes, é desafiar o
território comum do inevitável, mas ninguém – a não ser por interesses alheios –
constrói o discurso plausível que sua falta de fé é o que desconstrói os
próprios desejos. Mas quem constrói a realidade? Pena que não dizem com clareza
a quem de fato devemos servir. Existem tantos discursos e tantas advertências
que vamos perdendo a essência. Mesmo assim, deve-se resistir. Com os joelhos
ensanguentados, os ombros caídos e com os olhos secos - porque não há mais lágrimas! – resistir pode
ser aquela pontinha de fé que você acha que não tem, mas que por alguma razão
continuamos a nos arrastar. As dores do corpo, neste caso, mostra a intensidade
desta resistência.
Resistir ao
inevitável e a todos os planos vazios e a todo o esquecimento que em um breve
tempo todos caem, mesmo que lhe garanta a certeza de algo, a única certeza que
temos é que ao não resistir antecipamos o silêncio que tanto negamos. Resistir
é o silêncio, mas às vezes, é também negá-lo. Quando isso acontece nos lançamos
aos desafios de seguirmos por caminhos nem sempre convencionais. Parte-se numa
aposta cujo desafio nos leva a loucura do que todos evitam: o caminho do
incerto, da instabilidade.
Resistir,
enfim, pode ser apenas o simples fato de existir neste grande vazio de sentido
que nos lançamos todos os dias, sem nos dá conta do que realmente somos. Pensar
é perigoso, talvez a arma mais poderosa do homem. Resistir e pensar trouxe
revoluções, guerras, grandes catarse à humanidade. Na maioria dos casos
resistimos sem pensar, porque pretendemos ao máximo conservar nossos joelhos e
nossos ombros da responsabilidade que deveríamos assumir.
Resistir quando
a justiça é apenas uma metáfora condensada na boca de intelectuais e poderosos.
Os demais resistem à sua maneira. Vivem como podem e, como na maioria das vezes
não escrevemos a própria história, nos divertimos aceitando a condição de figurantes,
que aparecem no cenário sorrindo, que seguem o script de cena a cena até o
final do espetáculo. No final de tudo o que se vê são as cadeiras vazias e o
tão temido silêncio.
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