“Alegria ao é o
êxtase ardente de um instante. Alegria é a luz sem chama que
acompanha o ser”. (Fromm, 1982, p.122)
“A
alegria, portanto, é aquilo que sentimos no processo de nos
aproximar cada vez mais da meta de sermos nós mesmos”. (idem, p)
No
momento que escrevia essas duas frases no caderno de anotações vejo
sobre minha mesa papéis espalhados, livros pelo chão, minhas luvas
de pilotagem cobertas em poeira. Coisas de quem vai para o exílio,
aliás nem sei se posso falar isso, talvez um estágio momentâneo de
ausência e silêncio ao que te cerca. Mergulhei em alguns livros que
literalmente me puxou para outra dimensão, o principal foi Erich
Fromm. O olhar clínico de Erich Fomm sobre a sociedade nos dá
“pistas” de entendimentos sobre o presente e, sobre o lugar do
‘eu’ (o indivíduo) nestes contextos. Não me refiro a questões
políticas e/ou econômicas, mas na própria dimensão do que somos,
enquanto persona.
Diria
que tem sido um caminho interessante, considerando que começo a
entender diferenças
essenciais entre ‘ter’ e ‘ser’. Isso lembrou várias
situações que vivenciei, no qual o principal argumento (inclusive o
meu) era “eu sou” “eu sou aquilo outro”
“eu sou o arauto da
sabedoria e da verdade”, enfim, nada mais do que credenciais usadas
para desqualificar o outro, ou legitimar práticas. Essas questões
não chegam, nem de perto, sobre o elemento fundamental: o que somos?
Ou para tornar a conversa mais intimista: quem sou? Essa não é uma
pergunta fácil e, bem mais complicada é a resposta, talvez, seja
algo para uma vida, no entanto, Fromm – longe de querer responder
essas perguntas, até porque são pessoais – lança algumas
indicações que diferenciam os elementos TER e SER.
Posso
está enganado, mas ao
mostrar as diferenças essenciais entre ‘TER’ e ‘SER’, Fromm
nos coloca numa rota de colisão existencial ao mostrar
o quanto estamos mergulhados num único modelo e alternativa, e de
como críamos mecanismos de auto
enganos. A realidade não é
o que vemos (apenas!), muito menos o que assistimos na televisão. O
que podemos mostrar aos outros (inclusive nas famosas carteiradas,
ou melhor, credenciais), também, não mostra a essência, ou que
fala Fromm de “conhecer em profundidade”, “mergulhar”. Quando
isso acontece é preciso cuidado para que não nos afoguemos na
própria essência, nas
palavras de Erich Fromm “o ser é uma substância permanente,
intemporal e imutável” (p.44).
Enfim,
não tive dinheiro para viajar, no
entanto, mergulhei nestas
leituras que foram uma viagem.
Quando não se pode pensar e viver o mundo a partir do elemento TER,
buscar a construção do SER ajuda
a pôr
ordem nas
questões mais
importantes. Para não ficar
mais chato do que estou sendo, encerro
com um trecho do livro “Ter ou Ser?”,
de Erich Fomm:
“Enquanto
as pessoas do modo ter confiam no que têm, as pessoas do modo ser
confiam no fato que de ‘são’ [grifo meu], que estão vivos e que
alguma coisa nova nascerá, bastando para isso que tenham coragem
para deixar ir e reagir” (Fomm, p.51).
Visto
isso o que mais esperar? Ser no mundo é trabalhar com essas
possibilidades, fugir dos fatalismos - tão presentes nas verdades
imutáveis –, reagir, como o próprio autor colocar, fugir
dos fanatismos (de todos!), sermos críticos em silêncio. Embora,
muitas vezes nos tratem como ‘coisas’, porque o sistema assim
impõem, somos seres humanos de possibilidade infinitas. Todas essas
questões apresentam um grau de dificuldades e compreensão, por
vivemos numa sociedade no qual somos àquilo que termos (TER). Não a
como fugir disso, nem àqueles que denominamos de loucos conseguem. O
importe é está consciente, para
não sermos apenas mais um,
em meio a multidão que corre em direção ao nada.
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