domingo, 10 de julho de 2016

Perspectivas 1007: iniciando ...



“Alegria ao é o êxtase ardente de um instante. Alegria é a luz sem chama que acompanha o ser”. (Fromm, 1982, p.122)
“A alegria, portanto, é aquilo que sentimos no processo de nos aproximar cada vez mais da meta de sermos nós mesmos”. (idem, p)

No momento que escrevia essas duas frases no caderno de anotações vejo sobre minha mesa papéis espalhados, livros pelo chão, minhas luvas de pilotagem cobertas em poeira. Coisas de quem vai para o exílio, aliás nem sei se posso falar isso, talvez um estágio momentâneo de ausência e silêncio ao que te cerca. Mergulhei em alguns livros que literalmente me puxou para outra dimensão, o principal foi Erich Fromm. O olhar clínico de Erich Fomm sobre a sociedade nos dá “pistas” de entendimentos sobre o presente e, sobre o lugar do ‘eu’ (o indivíduo) nestes contextos. Não me refiro a questões políticas e/ou econômicas, mas na própria dimensão do que somos, enquanto persona.
Diria que tem sido um caminho interessante, considerando que começo a entender diferenças essenciais entre ‘ter’ e ‘ser’. Isso lembrou várias situações que vivenciei, no qual o principal argumento (inclusive o meu) era “eu sou” “eu sou aquilo outro”eu sou o arauto da sabedoria e da verdade”, enfim, nada mais do que credenciais usadas para desqualificar o outro, ou legitimar práticas. Essas questões não chegam, nem de perto, sobre o elemento fundamental: o que somos? Ou para tornar a conversa mais intimista: quem sou? Essa não é uma pergunta fácil e, bem mais complicada é a resposta, talvez, seja algo para uma vida, no entanto, Fromm – longe de querer responder essas perguntas, até porque são pessoais – lança algumas indicações que diferenciam os elementos TER e SER.
Posso está enganado, mas ao mostrar as diferenças essenciais entre ‘TER’ e ‘SER’, Fromm nos coloca numa rota de colisão existencial ao mostrar o quanto estamos mergulhados num único modelo e alternativa, e de como críamos mecanismos de auto enganos. A realidade não é o que vemos (apenas!), muito menos o que assistimos na televisão. O que podemos mostrar aos outros (inclusive nas famosas carteiradas, ou melhor, credenciais), também, não mostra a essência, ou que fala Fromm de “conhecer em profundidade”, “mergulhar”. Quando isso acontece é preciso cuidado para que não nos afoguemos na própria essência, nas palavras de Erich Fromm “o ser é uma substância permanente, intemporal e imutável” (p.44).
Enfim, não tive dinheiro para viajar, no entanto, mergulhei nestas leituras que foram uma viagem. Quando não se pode pensar e viver o mundo a partir do elemento TER, buscar a construção do SER ajuda a pôr ordem nas questões mais importantes. Para não ficar mais chato do que estou sendo, encerro com um trecho do livro “Ter ou Ser?”, de Erich Fomm:
Enquanto as pessoas do modo ter confiam no que têm, as pessoas do modo ser confiam no fato que de ‘são’ [grifo meu], que estão vivos e que alguma coisa nova nascerá, bastando para isso que tenham coragem para deixar ir e reagir” (Fomm, p.51).
Visto isso o que mais esperar? Ser no mundo é trabalhar com essas possibilidades, fugir dos fatalismos - tão presentes nas verdades imutáveis –, reagir, como o próprio autor colocar, fugir dos fanatismos (de todos!), sermos críticos em silêncio. Embora, muitas vezes nos tratem como ‘coisas’, porque o sistema assim impõem, somos seres humanos de possibilidade infinitas. Todas essas questões apresentam um grau de dificuldades e compreensão, por vivemos numa sociedade no qual somos àquilo que termos (TER). Não a como fugir disso, nem àqueles que denominamos de loucos conseguem. O importe é está consciente, para não sermos apenas mais um, em meio a multidão que corre em direção ao nada.



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