Já faz muito tempo que venho dedicando mais atenção a literatura,
do que propriamente a teorias sociais, filosofias e coisas do gênero.
Não estou fazendo classificações sobre o que é melhor, no
entanto, pelo menos para mim, tenho encontrado mais sentido na
literatura (nas suas formas e expressões) do que num monte de coisa
que li ao longo de alguns anos. Volto a repetir: não estou dizendo
que não serve. Pelo contrário: ler autores como Hannah Arendt,
Boaventura de Souza Santo, Sérgio Buarque, Zigmunt Baumam e tanto
outros é mergulhar num horizonte de interpretação do mundo.
Fantástico! Sistemas e pessoas. Macro e microestrutura. Interpretar,
minimamente, um monte de coisas que vivemos e assistirmos. Esses e
tantos outros são fundamentais. O outro lado é literatura e o papel
do escritor – que de modo deliberado ou não – trabalhado
cenários, cenas, personagens e enredos nos traz tantos elementos
importantes do mundo social que muitos teóricos e intelectuais que
muitas vezes desprezam.
A transcrição de uma fala que comenta o preço do feijão e joga a
culpa para alguém pode de maneira muito contundente me dizer mais
sobre a política do que muitas pesquisas formuladas em cima de
teorias (muito boas, por sinal) vinda da cabeça de pessoas que tem
apenas uma leve impressão do que representa para o povo dois ou três
reais a mais na sua feira. Muitos acham bonitinha a pobreza, criam
uma espécie de áurea e teorizam, teorizam tanto que chegam a
esquecer até do próprio nome, quando o que a pessoa que comenta o
preço do feijão mais quer é a possibilidade de poder comprá-lo,
daí ele está pouco se importante se é golpe ou contra golpe.
Então, pra fica mais fácil peguemos o maldito Charles Bukowski e
vemos em seus personagens a imagem de tudo que não assistimos em
propagandas, novelas e pokemons (é assim que escreve?). As imagens
de homens velhos e barrigudos que pouco se importam com o tal mercado
financeiro, e menos ainda com qualquer outro tipo de campanha
salvacionista – do tipo: não coma em tal restaurante porque eles
matam as formiguinhas. Falei do homem barrigudo e todos os outros
personagens femininos que odeiam seus parceiros, num ato de completo
abandono a todos esses sonhos enlatados e pasteurizado do sonho
consumista presentes em todas essas datas idiotas que enchem os
shopping centers. Maldito Bukowski. Maldito porque encontro em suas
histórias pessoas que não estão nem ai pra nada e daí nos
perguntamos: e daí que não estejamos nem aí pra porra nenhuma?
Poderia dá um monte de exemplos sobre outros autores e variar
concepções, mas quero apenas direcionar a reflexão de como por
meio de um recurso - aparentemente simples – podemos tirar,
igualmente, questões simples sobre essa abstração que chamamos
sociedade. Por que é tão difícil por parte desta elite intelectual
entender que meu vizinho do bairro ao lado quer apenas tomar sua
cerveja aos sábados, ou quer apenas ter o prazer de ouvir seu líder
religioso? As pessoas no seu cotidiano querem trabalhar, estudar, se
prepararem para viverem dignamente. Muitos intelectuais sempre
tiveram tudo, portanto, não sabem o que é uma criança pedir comida
a noite e simplesmente, não ter. Ficam indignados, esbravejam, falam
em nome “de”, muitos nutrem um mistico de ‘também estou como
você’, mas até que ponto caminham?
Muitos ficam com raiva de mim, por conta deste posicionamento. Já
fui chamado de fascista de ignorante e de tantas outras coisas, no
entanto, com tanta autoridade não foi capaz de me convencer daquilo
que acredito: o que as pessoas querem - neste mundo do salva-se –
é salvar a si mesmas. Preocupadas com Golpe? Quem? O jovem que
perdeu seu emprego e agora não vai poder realizar seu sonho estudar?
Ou anda, o pai que agora se vê na ameaça da fome e da humilhação,
este vai está preocupado com Golpe? E os jovens (e adultos, também)
que estão casando o pokemon (não sei como escreve)? A quem se quer
convencer? Ou melhor: a quem queremos convencer?
Do lado de fora a vida segue sua própria lógica – claro! Não
desprezo estruturas, ideologias, mas do lado de fora não respeitas
que as pessoas têm outras prioridades fora das grandes ideias, pra
mim se comprar a história de Machado de Assis no “Alienista”, no
qual coloca-se todo mundo na Casa Verde, quando na verdade a
dificuldade não internar, mas compreender quem são os verdadeiros
loucos. No meio de tudo isso, prefiro a loucura de ser chamado de
alienado e reacionário do que enlouquecer sobre a reprodução de
mais do mesmo. Bom! Mas por que estou falando isso?
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